sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

MACUMBA

Eu vô pra macumba,
Eu vô pru candomblé!
Quarqué uma que truxé
Esse nego pru que dé e vié!
Vô falá cum orixá
Cum Iemanjá que tamém é muié,
Prá trazê esse nego
Bem rente nus meus pé!
Vô tumá banho de chêro,
De arfazema, de cuité,
Vô fazê os beiço preto
de bebê tanto mé!
Vô pulá sete maré,
Vô rezá uma reza forte,
A mais forte que tivé,
Eu vô fazê o que eu pudé
Pra tê esse nego nus meus pé.
E aí quando ele vié,
Cheio de dengo e rapapé,
Aí eu vô dizê:
Pode dá nu pé seu nego,
Agora sô eu que num mais qué!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

PESCADOR

Ondula o diafragma
sobre a negra vaga
das solidões oceânicas.
É profundo o escuro
preso na retina do anonimato.
Tantos atos afogados
No repuxo das pulsões
Sem farol nem barco.
Ô pesca dor, ô pesca dor!
Já não há porto!
Ô pesca dor, ô pesca dor!
É o mar, é Omar!
É o corpo, é o corpo!
É o mar, é Omar!
Está morto! Está morto!
À deriva no conforto
da negra vaga das solidões
oceânicas.

sábado, 24 de novembro de 2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

ENTREGA


Sob as unhas
O que restou
Do gozo
Daquele poema
A que me entreguei.

PÁGINA EM BRANCO


Sorrisos volitam solúveis
Entre meus dedos
Na ponta do lápis.
Capturo furtiva a dúvida
Que me atrai e
Compreendo tardia:
A felicidade jaz(z).

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

POR PIEDADE


Nem que seja por piedade
Te quero dentro de mim
Quero que apague essa ardência
Me iluda com a crença de um
Amor ruim
Me jogue no balaio das meninas vis
Só pela ousadia de assumir
Que um dia eu te quis.
Vamos, me tenha!
Nem que seja por clemência
Eu estou bem aqui aos seus pés
O que é que você me diz?

VESTIDO DE NOIVA




Lasso, lasso
Deitado na cama,
Um espetáculo.
Branco, devasso.
Um calor no espinhaço.
Desato o nó,
Desfaço...
Já não há espaço
Entre nós.
Coloco o vestido,
Dou o laço
É de noiva,
Um grande passo

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

POETA

Neste mundo de santos e loucos
Me deixem ser só um pouco
Feminina
Que enclausurada em paredes
Uterinas sente contrações de poesia.

ESTÉRIL



Dias desfeitos
sob o pó da castidade
Era solo e orfandade

a barriga da mulher.
Era feito o esmoler
que pedia caridade
e o que por na colher.
Era o seco e a imensidade
A barriga da mulher
e por ela, a humanidade
e a barbarie se haveriam de nascer,
E seriam em perpetua idade
o caminho a se morrer.
 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

FIM DE FESTA

No inicio era a sesta sem descanso
A infidelidade honesta
O olhar pela fresta
Increstado de sim
A boca carmim arfando.
Agora é fim de festa
Raspas e restos de
Um amor sem fim.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A TRÊS



Dardejam em meus poros
Suas papilas gustativas
Na ponta da língua, o regaço
Gotejam em mim seus cílios
Negros e arábicos...
Estou tão cansada desse cinismo
Que furtivamente me adultera
Esgueirando-se entre salas, mesas
E cadeiras como num tango
Com duas parceiras que tanto
Me exaspera numa torpe
Coreografia na qual sempre
Sobra uma à espera.

FIM DE ROMANCE


Vozes masculinas destacadas
Do centro de um vórtice colorido
Pintura longínqua ante meus
Olhos abertos
Luzes fluorescentes me encaram
Do teto.
Tédio inevitável de um
Romance findo.

domingo, 18 de novembro de 2012

DESPERTAR

Minha vida desperta
Com uma luz pontual
Que se vai espargindo
Em um clarão
De tons pastéis
Nas cores deste
Dia pluvial.

TRAGICOMÉDIA

Lá no deslugar, Prometeu
A esperar que venham
Lhe arrancar um pedaço
De riso e quem diria
Que iria ser eu?

sábado, 17 de novembro de 2012

ÍNDIA MAKUSI




Escorro diamantes imprecisos
Do leito da trilha.
Lágrimas índias da tribo Makusi
Minha cintura vale mais!
Makunaima passou pelo meu ventre
Fez morada ali
Subiu a Serra Grande e ventou a Cruviana
Assustou seus irmãos que tinham inveja
De sua pele castanha
Mas não esqueceu que seu azul se confunde com o olhar de outro céu,
Que seu Branco são areias de outro rio
Ensinei que são meus cabelos que enegrecem a noite
Embalam o sono da rede do curumim
Deixei que brincasse com meus colares
Ao longo da Ponte Laranja
Do céu é mais bonito o espetáculo dos homens
Na terra de Makunaima
Sou índia Makusi
Sou filha e mãe de Roraima.

POEMA INSONE




Eu te desejo a noite e todo seu silêncio de inquietude ardente.
Desejo que dela te tornes confidente,
Que dela escute poemas de rua e os versos proibidos de uma balada notívaga,
as canções boêmias de revelações lúcidas.
Que ela te cante músicas coloridas do mais claro tom,
Que ela te fira de luz de uma estrela cadente,
Que os ecos das declarações contrariadas joguem contigo a ciranda!
Eu te desejo a noite,
Eu te desejo a consciência dormente,
Que desperte com acordes meus,
Com acordes de mim,
Que acordes meu...

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

LAMENTAÇÃO




Dores sedimentadas no fundo da bacia
Depositadas lá por essa condição feminina...
Era só alguém que não sabia
Como arcar com a vida
Sobrepondo pontos em cima da ferida
Para acreditar que ainda existia
Lá no fundo
Uma mulher
Na cavidade uterina.

BOA VISTA MULHER

Nem preta nem branca
Fugi da minha tribo
Para me perder no lavrado
Me refugiar ao Sol
Pintar de castanho
num deleite brando
Sinuosa cor de tocar
Haja espelho em que me veja:
Boa vista linda meu luar!
A brincar com a cor dos meus cabelos
Com meu jeito de cantar
Em cantos de Makunaima
A manchar de camu-camu tua cor
Encher de damurida teu sabor, teu ardor
Espere em Roro-ímã
Antes da luz coroar
Para que antes de partir
Leve em seu peito (forasteiro)
A muiraquitã que vou lhe ofertar.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

MÁQUINAS

Máquinas de ver monocromáticas
espiam tácitas as festas frias do salão
Máquinas de escrever monótonas
maquinam poesias mortas,
sangue negro em tez branca
sem ninguém para declamar.
Máquinas de ouvir monocórdicas
ensurdecem insólitas canções de olvidar.
Máquinas de falar monossilábicas
derramam ácidas, slogans a consumar.
Máquinas de pensar monolíticas
espreitam paralíticas o futuro
que repetirá o que veio separar
as máquinas de viver enferrujadas.

À Jean Luc Godard por nos ter presenteado com o belo filme Pierrot le fou.
Risco de vida
segundas identidades
entrelinhas de papel
De puro outro horizonte
Esparge em leve vento
um coracao fragmentario
sem rota indumentaria
sem teto nem relicario
Já perto de um estuario
de livros solitários
de Garcia Marquez.

Macon-panhia





Entre um acorde e o rio.
Como um gato, só.
Como um abiu.
Nunca gostei de mulher.
Inverno sem frio...
Baforada em melodia.
Viro a cara.
Não quero inalar seu verso em psicodelia.
Então namoro o chef.
Ele se embrenha na cozinha
Me trai com a Gastronomia
Entre as panelas...
Esqueci que eu que sou a concubina...
Difícil administrar duas mulheres.
E aí fico aqui...
Em macon-panhia
Num poema eventual
Nesse inferno de poesia
Só, rio, só com o rio.
Só rio  do poeta em condicional.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

RIMA PERPÉTUA

Pobre poeta!
Sempre à espera
Sempre à espreita
De que um novo poema
O acometa
Pobre poeta!
Não há rima perfeita
Só há rima perpétua...

CLICHÊ

‎Nada novo sob o Sol...
Leio Mallarmé,leio Rimbaud, leio Baudelaire...
Sempre numa poesia velha
Daquilo que já sou.
Caduca a poesia
Num clichê culto
De um poeta que não sabia viver

terça-feira, 13 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Varou a noite escura
Como um ateu
Que acreditava na boca
Buscou a Cura
Quebrou as esquinas
Dobrou a rua
Continuou em disparada
Era velho demais para dizer não
Abriu a porta e o peito
Enfrentou a ruga
Era demais para ele
e Dela ouviu:
Gire a chave na fechadura.

domingo, 11 de novembro de 2012

PRESENTE

Poemas velhos recortados
Em papel de embrulho
Para presente de aniversário
Quem dera fosse para futuro
Mas era só literatura embalada
Numa canção antiga
De memória tocada.

sábado, 10 de novembro de 2012

BLEFE

Façamos nossas apostas
Fragilidades expostas na mesa
Metades sobrepostas
Frases sem resposta
Entrecortadas, decompostas...
De nada adianta estar disposta
A raivas supostas
Ou paixões sem propostas.
Jogamos assim, mas não
Perca de mim que de ti
Virei apóstata.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

PÓS-TUDO

Me rio de como
minha poesia
se esvai entre os dedos
como areia como
se alheia me fosse
de mim mesma
Talvez deva
Me fazer de silêncio
para que o resto fale
mais do que poucos
versos de muito medo
ou de muita coragem
Mas que lembrem de que
poemas são tudo e só o
que tenho
Ainda que ante teu cenho
grave.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Para poesia clandestina, maldita e escondida em folhas de papel,
não há pena.
Todo céu é estrangeiro mal ou bom para quem intenta outras letras.
Nem todo tempo condena, para, a cena em plena praça central.
Tem tempo que corre da polícia internacional, da capital parisiense,
levando uma chanson de presente para dançar no carnaval de veneza.
Meu amigo benfazejo
Hão de cair sobre ti flores de desejo e minhas mãos sobre teu peito,
Hão de existir milhões de versos ao teu bel-prazer só pra te fazer rir.
Hão de se descumprir algumas leis do universo e outras de causa e efeito para que possas
habitar uma outra esfera: a da poesia.
E nela hão de existir solfejos coloridos, talvez de trompete e cortejos alegres de mulheres
de corpetes declamando versos,
Hão de existir combatentes aguerridos, de uniformes diversos em batalhas de confetes,
Hão de existir fantasias vividas espalhadas pelo teto.
Sim! Hão de existir, decerto!
Assim como se preencherá o deserto com toda gama de pedidos secretos que fizeres a
mim!
Noite escura
medo oculto em pesadelos.
Desvelo o choro,
debulho em culpa.
Altero o prumo da vida de outrem.
Quem seria à luz do dia?
Rezo. Prece curta para aliviar dores remotas e latentes.
Horas mortas. Alguém escuta e diz amém?
Algum ente benfazejo de audição arguta?
Alguém que amei me socorre?
Só escorre pelo vinco fundo do rosto.
O tempo me diz esquecei, esquecei.
Que assim seja,
Amém.

NEGAÇÃO

O não se me nega a sair pela boca.
Quantos porvires irei sustentar na íris até que me leia
até pelo inverso?
Mundos desconexos se entrelaçam pelas coxas,
meu ego se entrega pelo umbigo nessa conversa surda.
Nego o negro e o escuro no mais profundo e singelo esgar de riso.
Os amantes são meninos e a vida uma mulher despeitada
a quem recuso meus seios a troco de nada.
E o não se me nega a sair pela boca.
Palavra pouca também faz verso para os claripoetas
ao poente que de contente se exaspera.
 Mas o não se me nega a
sair pela boca e continuo a dizer rouca, sim.

PREDIÇÃO

Eu não sabia
Que te escrevia
Em cada poesia
Que ainda nem pensei
Em fazer.


Contrapensamento...
Anticerebral...
Prossentimental...
Deveras, compensa,
Poesia residual?
Quem me dera poder
eviscerar toda minha poesia e dela arrancar você.
Arranho a pele, a garganta, os seios.
Arranco cabelos, rasgo vestidos,
quadros belos e medos.
Expurgo nomes, homens e altares.
Já não possuo você.
Há lugares e não há você.
Há amanheceres e não há você.
E amanhã não haverá...

SEGUNDOS PASSOS

Dei de cara na esquina do mundo.
Entrevi pela fresta do escuro um resto de luz,
projéteis lunares.
arte bruta, tato cego, desejos mudos, ecos surdos.
Pontes seculares entre homens e deuses atravessada
Em segundos passos.
Onde estão meus paços?
Onde andarão? Ocuparão que lugar?
Agora são rastros dos sapatos de outrem,
buracos negros e requiéns de estrelas.

HABITAÇÃO

Muitos me habitam
Músicas, dores, flautas,
acordeões, cheiros, canções,
Me habita você e suas cores numa dança colorida
Bem diante das pupilas diamante em meio a escuridão
Muitos me vagam, percorrem, iluminam, atalham contra a solidão.
Me abrem o portão ou me invadem sem concessão.
Me perscrutam, indagam, olham e se passam para o lado de dentro.
Me façam eterna num minuto antes do término da brusca aparição
De meus olhos frente a imensidão.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

SEGUIRÁ

Corro e corro, não há mais linha de chegada
Corro e caio em cactos e espinhos,
Calco os pes em cacos de vidro.
Em carma e cama se desfaz a alma
em lama se esvai a calma
desfaço a fama e vou a lona,
Dona de algo que não pertence a ninguém
do cacófato gago
mal pronunciado
agora é fardo o ponto de partida.
Vou me embora pra passar a vida
ainda que assim deveras cindida,
Seguirá.

MAIO

Me acordem quando maio tiver passado.
Quando estiver esquecido no calendário.
Mas que bobagem...
Tempo é coisa de relógio.
Um engano astrológico pariu este mes ao contrário.
Sera que existe um desmaio?
Passe ao largo a passos largos.
Me acordem quando maio tiver passado.
Assim ou assado
no silêncio e no vácuo.
Louco e perdulário,
sem soldo e sem saldo
sem ampulheta nem relicário.
Passa mês de maio!
Fiz o que você me pediu
E me desfiz
dei o nó na garganta
fingi que acreditei
Em todo panta rei
que existiu pra nós
que desatei
inventei milhões de abismos pra ninguém
e me abismei
Cismei de brincar de amor, me entreguei
me joguei na solidão
Brinquei com desvarios
achei decerto haveria um destino para os loucos
phebo foi o culpado
mas eu cavei a vala pouco a pouco.
E agora o destino era
um velho louco gritando
rouco:
eu não minto, só faço pouco.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Umedeco minha carne escura e salina
pedindo que salitre fosse
antes do tiro de misericordia.
Mas do fosso a bala retine 
deixa a retina enfarruscada.
Era pra ser na cara e nao pela culatra 
o mau armisticio do arrependimento.
Jogue- me outro poema na cara, meu querido
som e furia em versos livres.
Neruda, Lorca, ou mesmo qualquer outra rima
tanto faz quem assina, pode ser até cordel
continuarei na empafia, bela e insondável.
Meu coração foi na ponta da caneta, da pena afiada.
Ainda sou poeta ainda que pequena.
Procuro o entendimento e a cegueira
porque hoje meus dias se contam pelos teus olhos.
fio desrazoes, desfio crencas, desafio estranhamentos, 
Já que pelos meus pensamentos volitam os teus.
Minha breve idade tenue
estava a salvo de ilusoes e felicidades
em meio ao deserto do profeta.
Eu, poeta, pura concessao, nenhuma exigencia, 
permaneco atenta galgando
degraus fragmentarios
ganho a luz (e a cegueira) e me deslumbro 
com a fissao trazida pelo tato.

REENCONTRO

Quando nos reencontrarmos e eu puder dizer 
que voce veio na hora certa,
que sua falta eu senti,
talvez me ria de mim mesma, lembrando
dos milhoes de rostos que te dei,
que inventei a cor de seus cabelos...
Mas eu fico aqui sem saber o que dizer
porque as ausencias não tem voz,
e me quedo como um corpo negro e estranho
me furtando de toda alacridade e só.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012



Tanto fiz para te desamar
e te esquecer e te odiar
te difamar
Tripudiar da sua dor,
Te achar em outros gozos
Me desdizer, arrancar os pelos
aos puxões de destempero
jogar os versos, aquele poema
que fiz pra você...
pra me render de novo
ao te ver e me entregar
e ter prazer e me esquecer
de te contar que eu fiz de tudo
pra não te perder, pra não
chorar e te dizer:
-voltei.

POUCAS LINHAS

*Para que céu irão os filhos insepultos?

*Vão-se os poetas. Ficam os dilemas.

*Dias pequenos encurtam a vida.

*Maus acasos embaralham os dias.

*Às vezes nascem flores no jardim do mal.




No princípio

No princípio, Deus era Deus e ponto final. Qualquer coisa você que se houvesse diretamente com Ele. Mas parecia que Deus ainda não era suficientemente bom, então, decidiram que Deus era três. Desta feita, Deus virou católico. Houve até um tempo que Deus era brasileiro, mas foi coisa rápida e, logo, ele adquiriu cidadania europeia. Daí pra frente, Deus ficou mais liberal e foi muitos. Foi até mulher! Bons tempos, esses... Hoje, Deus precisa de congregações, denominações e até de alguns milhões e virou evangélico. Nada contra, mas estou esperando o dia em que Deus seja um pouco mais humano, melhor dizendo, humanitário e largue dessa mania de ser religioso.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Tudo houve há um tempo atrás
Tudo soube pela voz e pelo olho
Tudo coube no pouco de nós
Tudo foi
Tudo noite
Tudo só.

RASTRO

Passarinho
Passa rindo
Pelo rastro
De migalhas
A caminho
Da armadilha.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

HORAS MORTAS

A hora de agora?
Não importa
Já se faz morta
A exemplo das outras
Imprecisas e tortas
Que nada comportam
Além das vidas que cortam
EXangues e improprias
Já que sonâmbulas caminham
Assim.

HÓSPEDE


Anda, devasta, inventa, disfarça mundos
Enquanto os segundos...
Já me fez gozar?
De volta do lastro
Quem sabe do Lácio,
Me bate a porta...
Qual deles será?
Então entra e me beija
Me chupa, me chama de sua....
Já sei...
Vai me fazer chorar...
Então parte de novo.
Parte de novo que te despeço!
Vai... e me cospe, me culpa
Me chama de puta,
Não adianta!
Não vou vou mais te hospedar.


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Bandalha

Sigo o som
com os olhos
Sobre duas rodas
Sigo a fuligem
Com o olfato
Do carro
Inalo
Miragem
No asfalto
Estalo.
Andorinha amestrada
A passar casas,
A passar praças,
A passar ar
Passará
Como verão
Andorinhando.

MEIO A MEIO

Meias linhas
Meio versos
Meios fios
De pensamento
Meios risos
Meio amor
Meio vazio
Um tanto
Cheio de frio
E ao relento.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Amor amargo
Na boca com
Gosto de fato
Se cansou, usou
Do tato na hora,
No ato, virou indolor.
Fim de relato.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Jardim


Violeta violenta me inunda o peito e as entranhas.
Me incha os seios, a boca e a garganta.
Violeta violenta que nada planta, apenas arranca e se dilui nas veias.
Entretanto, de espanto vem a contenda:
vem a paz depois da tormenta.
Vem do pranto, dos que lacrimejam,
a beleza do canto dos que plantam
roseiras vermelhas e brancas.


Para Mirella Miranda, com afeto. Sony Ferseck.


domingo, 21 de outubro de 2012

O espelho é sempre previsível
Através dele, só a espera
E o indivisível dirá
Que virá um dia
De miragem cega
Ou invisível
Entretanto bela.

sábado, 20 de outubro de 2012

A gente veio de lá,
A gente veio da África,
A gente veio de todo lugar,
A gente veio de um lar quase normal,
Quase formal.
Nossa mãe era a de todo mal
Dela a gente via de onde vinha
Toda essa poesia entrelinhada de
Notícias de Jornal.
Agora a gente tá nessa.
Tá numa de pressa pra essa
De felicidade eventual
Aí eu fiquei velha e chata
Minha caloura francesa
Tanto faz pra onde
A gente vai, já faz tempo
que eu não quero mais saber
Se a China existe, você quer
Ir pra Marrakesh, afinal quem resiste?
Aí você foi ler Budapeste para cantar Chico.
Desisto de agito, vou pro Egito brincar de Gizé.


Para Ágda Caroline Silva dos Santos, com afeto, Sony Ferseck.

Valkiria

Valkiria da claridade passeava
Incólume e limítrofe a cada estrofe
Pelas bordas da intertextualidade.
Celulose iluminária referenciava
Meio mundo da littera aos que de 
Espera morriam sem teoria.
Valkiria morena leve
Perita, os perdidos aos portões
da Sapientia.

Para Suênia Kdidja de Araújo Feitosa, com afeto, Sony Ferseck.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Homem feito

Quando você me nasceu
Já me nasceu assim:
Homem feito.
Barba na cara, pelo no peito, viola arranhada e a ela afeito.
Me cantando histórias de uma infância remota
Como se a tivesse deixado pelo meio.
Me recitando poemas, meio que de Memórias,
Lamentando os calos que já não existem nas mãos,
Rejubilando com gosto:- Os meninos são sãos!


Quando você me nasceu,
Já me nasceu assim: Homem feito, barba na cara, pelo no peito.
Já era homem em todo trejeito
Se rindo do meu espanto, da minha cara de medo.
Me dando alento em um grave canto, Me dando voz em cada desejo, em cada gozo, em cada beijo e me dando tanto, tanto.


Quando você me nasceu
Já era assim, desse jeito : Barba na cara, pelo no peito. Já era homem. Já era feito.





Menina

O tempo passava na voz da menina
Que de sentido em sentido se desfazia
Em relógio anti-horário.
Na risada da menina havia milhões
De projetos e eu que nem sei se
Vou ter netos a ouvia dizer que
Tudo vai dar certo.
Havia tantas vidas na voz da menina
Nem precisava reencarnacionistas
Para acreditar.
 Era só ela dizer:
"Era assim quando eu era pequena.
Havia teto de palha e luz de lanterna.
Eram muitos irmãos, todos briguentos..."
A inocente anacronia na voz da menina
Corria veloz rumo a outra vida:
De menina crescida.



Poema feito sob encomenda para Raiane Costa dos Santos, com afeto

Sony Ferseck

Tráfego

Flores encarvoadas da fumaçava
De descargas desesperadas.
Jardins automotivos acarpetam a cidade.
Plantações fluorescente de iluminação mal planejada.
Os domadores açulam os motociclistas de molas quebradas.
Desacelerada no batimento,
Espinha gelada,
Sangue na curva da esquina.
Fechada.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

One million Dollar, baby

One million dollar, baby!
Quanto vale um coração?
How much I have pay?
Vale mais que um tanto de desilusão?
Pelo meu, nem lembro mais quanto dei...
There's nothing I want to say,
I want to stay here...
Posso penhorar um punhado de versos,
Todos por declamar...
One million dollar, baby!
Importa se o cheque voltar?
Preciso contar inconveniências antes de
destrocar aquele
One million dollar, baby
Em moeda nacional.
Could ya gimme any change?
Everything has a price -
Said the prince.
Valha-me São Valentim
Eu não tenho um tostão furado
But I must pay
Então dei o que não pude
Até meu sangue empenhei
Então diga, pelo menos eu tentei...
One million dollar, baby!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Nabokoveta

E eu fiquei lá estirada na grama
Ao lado da bicicleta
Como alguma coisa estranha
Que doía nas entranhas de um homem,
Num paroxismo Nabokoveta.
Mas vou entrar antes que voce volte
Outra vez a me mutilar
Com seu par de olhos
Por sobre meus óculos de sol
De boneca
Traulitando uma canção
Da qual nunca esqueço a letra
Porque voce sempre entra,
Sobe as escadas, bate a porta
Abre a gaveta e me violenta...
Sai, escreve um livro
E se proclama poeta...
E eu fiquei lá, estirada na cama
Com algo doído nas minhas
Próprias entranhas...
Deve ser mais uma tolice
De outra criança

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Província



Talvez desenvolva um vício oculto,
Ou algum distúrbio,
Tudo por sua culpa.
Talvez corte os pulsos
Ou nada tão deplorável.
Talvez durma com vários
Homens, ainda bem,
A carne é retornável.
Mas essa cidade é pequena
Demais para ser assim
Tão libertária.

De arte são.


É de pedra a pena do poeta
e a sua caderneta
A caneta do escritor é parenta
da solidão
a cena do ator é sempre escuridão mesmo que na ribalta
é alta a filosofia do esteta
e insolente a habilidade do artesão
e então na sesta todos
deitam na esteira da profissão.

Mulher Lua


Eis me aqui mulher e não sou tua?
E a culpa é de outra mulher,
a Lua, que ciumenta e
astuta percebeu
que sou de carne crua
E mais tarde quando te chamar para a rua
Se oferecer já alta e nua
Vai te dizer: - Hoje ela não é tua...
Então palmas para Lua
que a Lua não menstrua...

Tragada


Risco o fósforo e acendo o pensamento.
Pra que ferir de luz o fingimento?
Desgraça pouca é bobagem, penso.
Planto ilusões no cimento.
Hão de se contentar com água de paragem. 
Negacear com o destino o que vem de través talvez nao seja esperto.
Decerto alice se perdeu no espelho, despenso.
Tragada.
Apago o pensamento e minha angústia no cinzeiro.

Ventre Vazio


Moço, moço me ajude a procurar.
Uma vez eu tive um amor, era tão bom com ele deitar. A ele dei meu ventre e uma porção de bem amar.
Moço, moço ele me deu um filho, um menino bonito pra danar, parecia com o pai gostava de me ouvir ninar.
Moço, moço me ajude a procurar!
Esse homem que amei inventou de me desamar. Roubou meu menino dos braços e o deu para outra mulher criar.
Moço, moço me ajude a procurar!
O menino vai virar homem e eu não vou estar lá
Meu olhar se perdeu, meu leite começou a secar, meu coração feneceu e agora só sei clamar.
Moço, moço me ajude a procurar!

Dias de Amaranta

Sentava na varanda, na cadeira de balanço e perguntava onde na
tessitura negra de seus dias havia deitado os afetos coagulados.
Tecia seu próprio sudário.
Sentia um amofinamento proprio aos videntes antes das grandes
tragédias, coisas de vidente.
Ouvia cantoras repetidas e nao deixava de pensar que as vozes com o
passar do tempo acabavam parecidas e confundidas.
"-É fulana quem esta cantando?"
"- Nao, é sicrana."
"- Ah, mas sao tao iguais..."
E reconhecia que por um mau acaso nascera herdeira de uma imensidão de
dívidas morais que a genética não apaga.
Nem mesmo a solidão centenária,
salvaguarda arredia e determinada que velava a sina de toda estirpe.

Injetável

Droga de vida!
E ainda por cima, injetável na veia,
A única solução para ela é a iniludível,
Então preferível a redução de danos,
Vamos por panos quentes na cara do destino!
Acho que acabou meio decapitado...
Vamos oferecer-lhe nossos milhões de risos
Police(fálicos) e brindar com coquetel Molotov!
Hoje a gente pode brincar de Infinito!

Poema para o Roberto Mibielli, em ocasião de sua estada num leito de Hospital.