sábado, 24 de novembro de 2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

ENTREGA


Sob as unhas
O que restou
Do gozo
Daquele poema
A que me entreguei.

PÁGINA EM BRANCO


Sorrisos volitam solúveis
Entre meus dedos
Na ponta do lápis.
Capturo furtiva a dúvida
Que me atrai e
Compreendo tardia:
A felicidade jaz(z).

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

POR PIEDADE


Nem que seja por piedade
Te quero dentro de mim
Quero que apague essa ardência
Me iluda com a crença de um
Amor ruim
Me jogue no balaio das meninas vis
Só pela ousadia de assumir
Que um dia eu te quis.
Vamos, me tenha!
Nem que seja por clemência
Eu estou bem aqui aos seus pés
O que é que você me diz?

VESTIDO DE NOIVA




Lasso, lasso
Deitado na cama,
Um espetáculo.
Branco, devasso.
Um calor no espinhaço.
Desato o nó,
Desfaço...
Já não há espaço
Entre nós.
Coloco o vestido,
Dou o laço
É de noiva,
Um grande passo

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

POETA

Neste mundo de santos e loucos
Me deixem ser só um pouco
Feminina
Que enclausurada em paredes
Uterinas sente contrações de poesia.

ESTÉRIL



Dias desfeitos
sob o pó da castidade
Era solo e orfandade

a barriga da mulher.
Era feito o esmoler
que pedia caridade
e o que por na colher.
Era o seco e a imensidade
A barriga da mulher
e por ela, a humanidade
e a barbarie se haveriam de nascer,
E seriam em perpetua idade
o caminho a se morrer.
 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

FIM DE FESTA

No inicio era a sesta sem descanso
A infidelidade honesta
O olhar pela fresta
Increstado de sim
A boca carmim arfando.
Agora é fim de festa
Raspas e restos de
Um amor sem fim.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A TRÊS



Dardejam em meus poros
Suas papilas gustativas
Na ponta da língua, o regaço
Gotejam em mim seus cílios
Negros e arábicos...
Estou tão cansada desse cinismo
Que furtivamente me adultera
Esgueirando-se entre salas, mesas
E cadeiras como num tango
Com duas parceiras que tanto
Me exaspera numa torpe
Coreografia na qual sempre
Sobra uma à espera.

FIM DE ROMANCE


Vozes masculinas destacadas
Do centro de um vórtice colorido
Pintura longínqua ante meus
Olhos abertos
Luzes fluorescentes me encaram
Do teto.
Tédio inevitável de um
Romance findo.

domingo, 18 de novembro de 2012

DESPERTAR

Minha vida desperta
Com uma luz pontual
Que se vai espargindo
Em um clarão
De tons pastéis
Nas cores deste
Dia pluvial.

TRAGICOMÉDIA

Lá no deslugar, Prometeu
A esperar que venham
Lhe arrancar um pedaço
De riso e quem diria
Que iria ser eu?

sábado, 17 de novembro de 2012

ÍNDIA MAKUSI




Escorro diamantes imprecisos
Do leito da trilha.
Lágrimas índias da tribo Makusi
Minha cintura vale mais!
Makunaima passou pelo meu ventre
Fez morada ali
Subiu a Serra Grande e ventou a Cruviana
Assustou seus irmãos que tinham inveja
De sua pele castanha
Mas não esqueceu que seu azul se confunde com o olhar de outro céu,
Que seu Branco são areias de outro rio
Ensinei que são meus cabelos que enegrecem a noite
Embalam o sono da rede do curumim
Deixei que brincasse com meus colares
Ao longo da Ponte Laranja
Do céu é mais bonito o espetáculo dos homens
Na terra de Makunaima
Sou índia Makusi
Sou filha e mãe de Roraima.

POEMA INSONE




Eu te desejo a noite e todo seu silêncio de inquietude ardente.
Desejo que dela te tornes confidente,
Que dela escute poemas de rua e os versos proibidos de uma balada notívaga,
as canções boêmias de revelações lúcidas.
Que ela te cante músicas coloridas do mais claro tom,
Que ela te fira de luz de uma estrela cadente,
Que os ecos das declarações contrariadas joguem contigo a ciranda!
Eu te desejo a noite,
Eu te desejo a consciência dormente,
Que desperte com acordes meus,
Com acordes de mim,
Que acordes meu...

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

LAMENTAÇÃO




Dores sedimentadas no fundo da bacia
Depositadas lá por essa condição feminina...
Era só alguém que não sabia
Como arcar com a vida
Sobrepondo pontos em cima da ferida
Para acreditar que ainda existia
Lá no fundo
Uma mulher
Na cavidade uterina.

BOA VISTA MULHER

Nem preta nem branca
Fugi da minha tribo
Para me perder no lavrado
Me refugiar ao Sol
Pintar de castanho
num deleite brando
Sinuosa cor de tocar
Haja espelho em que me veja:
Boa vista linda meu luar!
A brincar com a cor dos meus cabelos
Com meu jeito de cantar
Em cantos de Makunaima
A manchar de camu-camu tua cor
Encher de damurida teu sabor, teu ardor
Espere em Roro-ímã
Antes da luz coroar
Para que antes de partir
Leve em seu peito (forasteiro)
A muiraquitã que vou lhe ofertar.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

MÁQUINAS

Máquinas de ver monocromáticas
espiam tácitas as festas frias do salão
Máquinas de escrever monótonas
maquinam poesias mortas,
sangue negro em tez branca
sem ninguém para declamar.
Máquinas de ouvir monocórdicas
ensurdecem insólitas canções de olvidar.
Máquinas de falar monossilábicas
derramam ácidas, slogans a consumar.
Máquinas de pensar monolíticas
espreitam paralíticas o futuro
que repetirá o que veio separar
as máquinas de viver enferrujadas.

À Jean Luc Godard por nos ter presenteado com o belo filme Pierrot le fou.
Risco de vida
segundas identidades
entrelinhas de papel
De puro outro horizonte
Esparge em leve vento
um coracao fragmentario
sem rota indumentaria
sem teto nem relicario
Já perto de um estuario
de livros solitários
de Garcia Marquez.

Macon-panhia





Entre um acorde e o rio.
Como um gato, só.
Como um abiu.
Nunca gostei de mulher.
Inverno sem frio...
Baforada em melodia.
Viro a cara.
Não quero inalar seu verso em psicodelia.
Então namoro o chef.
Ele se embrenha na cozinha
Me trai com a Gastronomia
Entre as panelas...
Esqueci que eu que sou a concubina...
Difícil administrar duas mulheres.
E aí fico aqui...
Em macon-panhia
Num poema eventual
Nesse inferno de poesia
Só, rio, só com o rio.
Só rio  do poeta em condicional.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

RIMA PERPÉTUA

Pobre poeta!
Sempre à espera
Sempre à espreita
De que um novo poema
O acometa
Pobre poeta!
Não há rima perfeita
Só há rima perpétua...

CLICHÊ

‎Nada novo sob o Sol...
Leio Mallarmé,leio Rimbaud, leio Baudelaire...
Sempre numa poesia velha
Daquilo que já sou.
Caduca a poesia
Num clichê culto
De um poeta que não sabia viver

terça-feira, 13 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Varou a noite escura
Como um ateu
Que acreditava na boca
Buscou a Cura
Quebrou as esquinas
Dobrou a rua
Continuou em disparada
Era velho demais para dizer não
Abriu a porta e o peito
Enfrentou a ruga
Era demais para ele
e Dela ouviu:
Gire a chave na fechadura.

domingo, 11 de novembro de 2012

PRESENTE

Poemas velhos recortados
Em papel de embrulho
Para presente de aniversário
Quem dera fosse para futuro
Mas era só literatura embalada
Numa canção antiga
De memória tocada.

sábado, 10 de novembro de 2012

BLEFE

Façamos nossas apostas
Fragilidades expostas na mesa
Metades sobrepostas
Frases sem resposta
Entrecortadas, decompostas...
De nada adianta estar disposta
A raivas supostas
Ou paixões sem propostas.
Jogamos assim, mas não
Perca de mim que de ti
Virei apóstata.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

PÓS-TUDO

Me rio de como
minha poesia
se esvai entre os dedos
como areia como
se alheia me fosse
de mim mesma
Talvez deva
Me fazer de silêncio
para que o resto fale
mais do que poucos
versos de muito medo
ou de muita coragem
Mas que lembrem de que
poemas são tudo e só o
que tenho
Ainda que ante teu cenho
grave.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Para poesia clandestina, maldita e escondida em folhas de papel,
não há pena.
Todo céu é estrangeiro mal ou bom para quem intenta outras letras.
Nem todo tempo condena, para, a cena em plena praça central.
Tem tempo que corre da polícia internacional, da capital parisiense,
levando uma chanson de presente para dançar no carnaval de veneza.
Meu amigo benfazejo
Hão de cair sobre ti flores de desejo e minhas mãos sobre teu peito,
Hão de existir milhões de versos ao teu bel-prazer só pra te fazer rir.
Hão de se descumprir algumas leis do universo e outras de causa e efeito para que possas
habitar uma outra esfera: a da poesia.
E nela hão de existir solfejos coloridos, talvez de trompete e cortejos alegres de mulheres
de corpetes declamando versos,
Hão de existir combatentes aguerridos, de uniformes diversos em batalhas de confetes,
Hão de existir fantasias vividas espalhadas pelo teto.
Sim! Hão de existir, decerto!
Assim como se preencherá o deserto com toda gama de pedidos secretos que fizeres a
mim!
Noite escura
medo oculto em pesadelos.
Desvelo o choro,
debulho em culpa.
Altero o prumo da vida de outrem.
Quem seria à luz do dia?
Rezo. Prece curta para aliviar dores remotas e latentes.
Horas mortas. Alguém escuta e diz amém?
Algum ente benfazejo de audição arguta?
Alguém que amei me socorre?
Só escorre pelo vinco fundo do rosto.
O tempo me diz esquecei, esquecei.
Que assim seja,
Amém.

NEGAÇÃO

O não se me nega a sair pela boca.
Quantos porvires irei sustentar na íris até que me leia
até pelo inverso?
Mundos desconexos se entrelaçam pelas coxas,
meu ego se entrega pelo umbigo nessa conversa surda.
Nego o negro e o escuro no mais profundo e singelo esgar de riso.
Os amantes são meninos e a vida uma mulher despeitada
a quem recuso meus seios a troco de nada.
E o não se me nega a sair pela boca.
Palavra pouca também faz verso para os claripoetas
ao poente que de contente se exaspera.
 Mas o não se me nega a
sair pela boca e continuo a dizer rouca, sim.

PREDIÇÃO

Eu não sabia
Que te escrevia
Em cada poesia
Que ainda nem pensei
Em fazer.


Contrapensamento...
Anticerebral...
Prossentimental...
Deveras, compensa,
Poesia residual?
Quem me dera poder
eviscerar toda minha poesia e dela arrancar você.
Arranho a pele, a garganta, os seios.
Arranco cabelos, rasgo vestidos,
quadros belos e medos.
Expurgo nomes, homens e altares.
Já não possuo você.
Há lugares e não há você.
Há amanheceres e não há você.
E amanhã não haverá...

SEGUNDOS PASSOS

Dei de cara na esquina do mundo.
Entrevi pela fresta do escuro um resto de luz,
projéteis lunares.
arte bruta, tato cego, desejos mudos, ecos surdos.
Pontes seculares entre homens e deuses atravessada
Em segundos passos.
Onde estão meus paços?
Onde andarão? Ocuparão que lugar?
Agora são rastros dos sapatos de outrem,
buracos negros e requiéns de estrelas.

HABITAÇÃO

Muitos me habitam
Músicas, dores, flautas,
acordeões, cheiros, canções,
Me habita você e suas cores numa dança colorida
Bem diante das pupilas diamante em meio a escuridão
Muitos me vagam, percorrem, iluminam, atalham contra a solidão.
Me abrem o portão ou me invadem sem concessão.
Me perscrutam, indagam, olham e se passam para o lado de dentro.
Me façam eterna num minuto antes do término da brusca aparição
De meus olhos frente a imensidão.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

SEGUIRÁ

Corro e corro, não há mais linha de chegada
Corro e caio em cactos e espinhos,
Calco os pes em cacos de vidro.
Em carma e cama se desfaz a alma
em lama se esvai a calma
desfaço a fama e vou a lona,
Dona de algo que não pertence a ninguém
do cacófato gago
mal pronunciado
agora é fardo o ponto de partida.
Vou me embora pra passar a vida
ainda que assim deveras cindida,
Seguirá.

MAIO

Me acordem quando maio tiver passado.
Quando estiver esquecido no calendário.
Mas que bobagem...
Tempo é coisa de relógio.
Um engano astrológico pariu este mes ao contrário.
Sera que existe um desmaio?
Passe ao largo a passos largos.
Me acordem quando maio tiver passado.
Assim ou assado
no silêncio e no vácuo.
Louco e perdulário,
sem soldo e sem saldo
sem ampulheta nem relicário.
Passa mês de maio!
Fiz o que você me pediu
E me desfiz
dei o nó na garganta
fingi que acreditei
Em todo panta rei
que existiu pra nós
que desatei
inventei milhões de abismos pra ninguém
e me abismei
Cismei de brincar de amor, me entreguei
me joguei na solidão
Brinquei com desvarios
achei decerto haveria um destino para os loucos
phebo foi o culpado
mas eu cavei a vala pouco a pouco.
E agora o destino era
um velho louco gritando
rouco:
eu não minto, só faço pouco.